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No princípio era o aço.

O aço aço,

o inquebrantável superaço

forjado a 6000 graus em fogo plácido.

Frio em chapas gélidas,

quase cadavérico,

pronto para cemitérios

homéricos edifícios

de méritos estratosféricos.

A dureza própria

de quem nasceu

para ser estéril.

 

Omar Franco imanta o aço,

dar a todos vida fácil,

função estética,

em calandras e calhamaços.

O aço ganha nome,

sobrenome, cpf,

conta de banco e carro do ano.

 

O escultor não dá ouvidos.

Embala-os em pedaços:

Aquele é o aço menino,

O outro o aço-papel,

tem o aço quase algodão-doce.

Moldáveis, dialéticos, obedientes,

cumprem funções no espaço.

 

Ah, aço!

Nem lembra o rei-metal de força inquebrantável.

Agora, totalmente embriagado

nesta provocação anti-decorativa.

O aço é arte que já não é mais arte: é aço.

Aço meteorito,

essas peças são serpentes prontas para o bote

com seus dentes de beleza,

suas costuras inoxidáveis

a forma bruta do chão

o aspecto de bag(aço).

 

O aço está nu

está sem alma

Mais aço não há

não se planta

aço-mar,

aço em ondas

aço-franco.

 

Luis Turiba

Brasília, 10 de abril de 2001.